quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Mês Internacional das Bibliotecas Escolares

Inseridas no bem-estar ocupacional, emocional, físico, espiritual, intelectual e social, as sugestões de hoje levam-nos a viajar por um mundo que para muitos é totalmente desconhecido.

 A primeira sugestão é de um livro que nos conta a história de James Doty, um professor catedrático de Neurocirurgia na Universidade de Stanford, que “Certo dia, quando tinha doze anos, entrou numa velha loja de magia. Queria comprar um polegar de plástico, para ensaiar um número. A senhora por trás do balcão simpatizou com aquele miúdo franzino. E propôs ensinar-lhe a verdadeira magia. Não os truques de circo, mas sim a capacidade de olhar para dentro e perceber a linguagem do coração...

O miúdo aceitou. Durante seis semanas, todos os dias, ia religiosamente bater-lhe à porta. E todos os dias aprendia uma nova lição. Estávamos em 1968. Pouco se falava de meditação ou mindfullness, pensamento positivo ou visualizações. Mas era essa “magia” que o rapaz de 12 anos tinha começado a aprender.”

 

“...Hoje a minha testa está fria e a minha visão é nítida. A minha pulsação está calma e regular. A experiência faz a diferença e na minha sala de operações não sou um ditador nem uma prima donna agressiva. Cada membro da equipa é valioso e necessário. Cada um está focado na sua tarefa. O anestesista controla a pressão sanguínea da criança e o oxigénio, o seu nível de consciência e o ritmo cardíaco. A enfermeira instrumentista verifica constantemente os instrumentos e materiais, assegurando-se de que tudo o que é necessário fica à mão. (…)

O cirurgião que me assiste é um residente sénior em formação e é novo na equipa, mas está tão focado nos vasos sanguíneos, no tecido cerebral e nos pormenores da remoção deste tumor como eu. Não podemos pensar nos nossos planos para o dia seguinte, na política hospitalar, nos nossos filhos ou em algum problema no nosso relacionamento em casa. É uma forma de hipervigilância, de concentração em determinado ponto, quase meditação. Treinamos a mente e esta treina o corpo. Quando se tem uma boa equipa, o ritmo e a fluidez são espantosos – todos estão sincronizados. As nossas mentes e corpos trabalham em conjunto como uma inteligência coordenada.

Estou a remover a última porção de tumor, que está presa a uma das principais veias drenantes, nas profundezas do cérebro. O sistema nervoso da fossa posterior é incrivelmente complexo e o meu assistente está a aspirar os fluidos, enquanto eu removo o resto do tumor. Por um segundo, ele deixa a sua atenção vaguear e, nesse preciso instante, a sucção rasga a veia. Por um brevíssimo momento, tudo para.

De repente, instala-se o caos.

O sangue da veia rasgada enche a cavidade da ressecção e o sangue começa a escorrer da abertura na cabeça do menino. O anestesista começa a gritar que a pressão sanguínea da criança está a cair rapidamente e que não consegue acompanhar a perda de sangue. Preciso de prender a veia e estancar a hemorragia, mas ela escondeu-se numa poça de sangue e não consigo encontrá-la. Por si só, a minha sucção não consegue controlar o sangramento e a mão do meu assistente está a tremer demasiado para poder ser uma ajuda.

- Está em paragem total! – grita o anestesista. Tem de se arrastar por baixo da mesa, porque a cabeça do rapazinho está presa na armação própria, pronta, a parte de trás aberta. O anestesista começa a comprimir o peito da criança enquanto coloca a outra mão nas suas costas, tentando desesperadamente que o coração volte a bater. Os fluídos são despejados para as intravenosas. A principal e mais importante tarefa do coração é bombear sangue e esta bomba mágica que torna tudo possível no corpo que parou. (…)

O cérebro consome 15 por cento do fluxo do coração e, depois de este parar, só consegue sobreviver alguns minutos. Precisa de sangue e, mais importante, do oxigénio que nele se encontra. Estamos a ficar sem tempo antes que o cérebro morra – o cérebro e o coração precisam um do outro.

Tento freneticamente agarrar a veia, mas não há forma de a encontrar no meio de todo aquele sangue. (…)

Tal como eu, a equipa sabe que estamos a ficar sem tempo. O anestesista levanta os olhos para mim e vejo-lhe uma expressão de medo... Podemos perder esta criança. (…)

Estou a trabalhar às cegas e então abro o coração a uma possibilidade para lá da razão e começo a fazer o que aprendi há décadas, não no internato, não na faculdade, mas no quarto  traseiro de uma pequena loja de magia, no deserto da Califórnia.

Acalmo a mente.

Relaxo o corpo.

Visualizo a veia recolhida. Vejo-a com o olho da mente, oculta no percurso neurovascular do rapazinho. Prossigo sem ver, mas sabendo que esta vida tem mais do que conseguimos vislumbrar e que cada um de nós é capaz de fazer coisas extraordinárias, que nunca pensaríamos ser possível. Controlamos os nossos destinos e não posso aceitar que este menino de quatro anos esteja destinado a morrer hoje, na mesa de operações.

Debruço-me sobre a poça de sangue com o grampo aberto, prendo-o e, lentamente, afasto a mão.

A hemorragia para e, de repente, como se viesse de muito longe, ouço o bip do monitor cardíaco. A princípio é fraco, irregular. Mas depressa se vai tornando forte e constante, como qualquer coração quando começa a regressar à vida. 

Sinto o meu próprio ritmo cardíaco a acompanhar o do monitor.”    

James R. Doty, em Dentro da Loja Mágica – Um neurocirurgião à descoberta dos caminhos secretos para a alma

 

E por último, seguem dois vídeos para descobrirem mais sobre esta temática. 




 

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