No âmbito
do Projeto “Observatório do Bem-Estar”, inserido no Programa Viseu Educa, a
equipa de Psicólogas em Contexto Escolar convidaram as escolas a assinalar Dia
Internacional da Saúde Mental.
As
bibliotecas escolares Dr. Azeredo Perdigão e D. Duarte colaboraram nesta iniciativa
e elaboraram os cartazes que foram preenchidos pela comunidade escolar.
As pessoas preocupam-se tanto com a
estética que se esquecem da saúde mental.
Mestre
Arievlis
Deixamos ainda uma sugestão de leitura: o artigo de
opinião de Mésicles Helin no Dia Mundial da Saúde Mental (na TSF Rádio Notícias,
disponível em: https://www.tsf.pt/sociedade/interior/eles-andam-por-ai---dia-mundial-da-saude-mental-9981005.html)
Eles andam
por aí.
E ainda
bem.
Carlos é um
jovem rapaz de 37 anos. Vive com mais dois companheiros numa residência autónoma
e trabalha, há ano e meio, como jardineiro num museu. Com o outono a chegar,
diz andar atento às folhas caducas que caem das árvores:
- Quando
começar a chover isto não pode ficar tudo entupido. As pessoas depois têm que
vir trabalhar e visitar o museu - Sente-se responsável e zeloso pelo lugar onde
trabalha.
Há 2 anos,
Carlos teve alta hospitalar. Ao ler a história clínica, perde-se a conta ao
número de internamentos. Desde a adolescência, é um regular frequentador dos
serviços de Psiquiatria dos hospitais. Estudou até ao quarto ano do ensino
básico com repetições sucessivas. Carlos tem dificuldades intelectuais, sociais
e de adaptação. No perfil de competências cognitivas é incapaz de fazer
cálculos com mais de dois algarismos por parcela, tem dificuldade na escrita e
em contar uma história. O pensamento abstrato, a memória imediata e a
capacidade de resolver um problema estão comprometidos e muito abaixo do nível
esperado quando comparado com as pessoas da mesma idade. Nas relações sociais,
Carlos é imaturo e tem dificuldade em regular as emoções de forma adequada ao
contexto. Não tem história de consumo excessivo de bebidas alcoólicas, nem
abuso de drogas. Na vida profissional, viveu de biscates e o trabalho mais
longo que teve, antes do último internamento, durou 7 meses. Tinha como tarefa
contar parafusos e colocá-los em sacos de plástico para seguirem para uma
grande superfície comercial.
Da história
familiar percebe-se que Carlos vem de uma família desestruturada. A mãe viveu
em diferentes cidades, consoante a relação amorosa que tivesse na altura. O pai
morreu por consumo de drogas, há mais de 20 anos. Tem irmãos mas diz que não se
relacionam:
- Dois
vivem lá fora e outros dois não sei deles. Acho que moram em Lisboa, mas não
sei bem.
Refere ter
os colegas do trabalho, os companheiros de casa e os amigos da Associação X.
- Vou lá
todos os sábados. Almoçamos e costumamos ir dar um passeio. Às vezes vemos
filmes ou jogamos às cartas.
A
frequência da Associação é um compromisso que Carlos estabeleceu com a equipa
prestadora de Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental (CCISM). Como
Carlos, há outros homens e mulheres que - em conjunto com voluntários, técnicos
de serviço social, terapia ocupacional, psicologia e enfermeiros especialistas
em saúde mental - planeiam e organizam as atividades para o grupo. Na
residência também tem apoio de uma equipa que, uma vez por mês, monitoriza a
arrumação e limpeza da casa. No caso de Carlos, há ainda o apoio na ida às
compras. Tem dificuldade em gerir o dinheiro mas, com a aprendizagem de
estratégias compensatórias que consistem em lidar com pequenas parcelas de
dinheiro, consegue fazer pequenas compras e ainda guardar o dinheiro para um
café diário na cafetaria do museu.
Carlos
sente-se bem. Diz que o jardim do museu "é o mais lindo de Portugal".
Sonha um dia andar de avião. Tem uma identidade. Tem uma casa. Tem um salário.
Tem vida social e está no meio de nós. Como o Carlos, eles andam por aí. E
ainda bem.
Nota:
"Carlos" é um caso fictício, baseado num somatório de casos reais.
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