quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Dia Internacional da Saúde Mental

No âmbito do Projeto “Observatório do Bem-Estar”, inserido no Programa Viseu Educa, a equipa de Psicólogas em Contexto Escolar convidaram as escolas a assinalar Dia Internacional da Saúde Mental.
As bibliotecas escolares Dr. Azeredo Perdigão e D. Duarte colaboraram nesta iniciativa e elaboraram os cartazes que foram preenchidos pela comunidade escolar.

As pessoas preocupam-se tanto com a estética que se esquecem da saúde mental.
Mestre Arievlis


 
Deixamos ainda uma sugestão de leitura: o artigo de opinião de Mésicles Helin no Dia Mundial da Saúde Mental (na TSF Rádio Notícias, disponível em: https://www.tsf.pt/sociedade/interior/eles-andam-por-ai---dia-mundial-da-saude-mental-9981005.html
Eles andam por aí.
E ainda bem.
Carlos é um jovem rapaz de 37 anos. Vive com mais dois companheiros numa residência autónoma e trabalha, há ano e meio, como jardineiro num museu. Com o outono a chegar, diz andar atento às folhas caducas que caem das árvores:
- Quando começar a chover isto não pode ficar tudo entupido. As pessoas depois têm que vir trabalhar e visitar o museu - Sente-se responsável e zeloso pelo lugar onde trabalha.
Há 2 anos, Carlos teve alta hospitalar. Ao ler a história clínica, perde-se a conta ao número de internamentos. Desde a adolescência, é um regular frequentador dos serviços de Psiquiatria dos hospitais. Estudou até ao quarto ano do ensino básico com repetições sucessivas. Carlos tem dificuldades intelectuais, sociais e de adaptação. No perfil de competências cognitivas é incapaz de fazer cálculos com mais de dois algarismos por parcela, tem dificuldade na escrita e em contar uma história. O pensamento abstrato, a memória imediata e a capacidade de resolver um problema estão comprometidos e muito abaixo do nível esperado quando comparado com as pessoas da mesma idade. Nas relações sociais, Carlos é imaturo e tem dificuldade em regular as emoções de forma adequada ao contexto. Não tem história de consumo excessivo de bebidas alcoólicas, nem abuso de drogas. Na vida profissional, viveu de biscates e o trabalho mais longo que teve, antes do último internamento, durou 7 meses. Tinha como tarefa contar parafusos e colocá-los em sacos de plástico para seguirem para uma grande superfície comercial.
Da história familiar percebe-se que Carlos vem de uma família desestruturada. A mãe viveu em diferentes cidades, consoante a relação amorosa que tivesse na altura. O pai morreu por consumo de drogas, há mais de 20 anos. Tem irmãos mas diz que não se relacionam:
- Dois vivem lá fora e outros dois não sei deles. Acho que moram em Lisboa, mas não sei bem.
Refere ter os colegas do trabalho, os companheiros de casa e os amigos da Associação X.
- Vou lá todos os sábados. Almoçamos e costumamos ir dar um passeio. Às vezes vemos filmes ou jogamos às cartas.
A frequência da Associação é um compromisso que Carlos estabeleceu com a equipa prestadora de Cuidados Continuados Integrados de Saúde Mental (CCISM). Como Carlos, há outros homens e mulheres que - em conjunto com voluntários, técnicos de serviço social, terapia ocupacional, psicologia e enfermeiros especialistas em saúde mental - planeiam e organizam as atividades para o grupo. Na residência também tem apoio de uma equipa que, uma vez por mês, monitoriza a arrumação e limpeza da casa. No caso de Carlos, há ainda o apoio na ida às compras. Tem dificuldade em gerir o dinheiro mas, com a aprendizagem de estratégias compensatórias que consistem em lidar com pequenas parcelas de dinheiro, consegue fazer pequenas compras e ainda guardar o dinheiro para um café diário na cafetaria do museu.
Carlos sente-se bem. Diz que o jardim do museu "é o mais lindo de Portugal". Sonha um dia andar de avião. Tem uma identidade. Tem uma casa. Tem um salário. Tem vida social e está no meio de nós. Como o Carlos, eles andam por aí. E ainda bem.
Nota: "Carlos" é um caso fictício, baseado num somatório de casos reais.

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