Esperta, a raposa! Era tão astuta que estava acostumada a rir-se de tudo
e de todos. Bem, de todos, não. Os pássaros, por exemplo, mala viam, começavam
a voar para longe do alcance dos seus dentes.
Então,
a raposa pensou que tinha de aprender a voar para os pássaros não lhe fugirem.
Quem é que lhe poderia dar umas lições de voo?
O inverno tinha sido
muito rigoroso e quando o grou voltou dos países quentes, como fazia todos os
anos, ainda havia uma grossa camada de neve. Embora tivesse um bico muito comprido,
custava-lhe muito encontrar alguma coisa com que entreter o estômago. Foi então
que encontrou a raposa, que lhe disse:
- Estou a ver que não
andas a comer muito por estes dias. Se quiseres, eu alimento-te enquanto houver
neve e, depois, tu ensinas-me a voar.
- Nem me digas! Com todo o gosto! – exclamou o grou, aceitando a proposta da senhora raposa.
Mas a raposa não
conseguia deixar de enganar toda a gente. Mandou fazer uma bela sopa, que
estava de se lamber os dedos, e serviu-a num prato raso; claro está que a
raposa, habituada a comer com a língua, devorou a sopa toda, enquanto o grou
não conseguiu senão cheirá-la.
O grou percebeu
rapidamente que a raposa não agia de boa fé, mas não disse nada. E, quando
chegou a altura em que o sol derreteu toda a neve, disse:
- Bom, chegou a altura
de te pagar o favor. Sobe para as minhas costas e vamos voar…
- Não vou cair, pois
não? - perguntou com um certo medo.
- Nem pensar! Vamos
voar! – disse o grou a rir.
Abriu as asas e começou
a voar.
E subiram, subiram até
muito alto. Lá em baixo, em terra, viam-se as coisas muito pequenas, como se
fossem de brincar. Nessa altura, o grou virou a cabeça e disse para a sua
passageira:
- E agora vais voar
sozinha, já que comeste a sopa sozinha.
E deu um forte safanão
que fez cair a raposa. Mas a raposa não conseguia voar, por mais que tentasse,
e foi caindo como uma pedra. O grou ria-se a bandeiras despregadas!
Por sorte, a raposa foi
cair num lago, muito abundantes naquela terra, de onde só conseguiu sair a
muito custo. Furiosa, procurou o grou com o olhar, mas sabe-se lá onde é que
ele já ia.
(Conto de origem finlandesa)
in “A volta ao Mundo em oitenta
contos”, de Albert Jané
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