quarta-feira, 20 de outubro de 2021

O Grou e a Raposa

          Esperta, a raposa! Era tão astuta que estava acostumada a rir-se de tudo e de todos. Bem, de todos, não. Os pássaros, por exemplo, mala viam, começavam a voar para longe do alcance dos seus dentes.

             Então, a raposa pensou que tinha de aprender a voar para os pássaros não lhe fugirem. Quem é que lhe poderia dar umas lições de voo?

O inverno tinha sido muito rigoroso e quando o grou voltou dos países quentes, como fazia todos os anos, ainda havia uma grossa camada de neve. Embora tivesse um bico muito comprido, custava-lhe muito encontrar alguma coisa com que entreter o estômago. Foi então que encontrou a raposa, que lhe disse:

- Estou a ver que não andas a comer muito por estes dias. Se quiseres, eu alimento-te enquanto houver neve e, depois, tu ensinas-me a voar.

- Nem me digas! Com todo o gosto! – exclamou o grou, aceitando a proposta da senhora raposa.

Mas a raposa não conseguia deixar de enganar toda a gente. Mandou fazer uma bela sopa, que estava de se lamber os dedos, e serviu-a num prato raso; claro está que a raposa, habituada a comer com a língua, devorou a sopa toda, enquanto o grou não conseguiu senão cheirá-la.

O grou percebeu rapidamente que a raposa não agia de boa fé, mas não disse nada. E, quando chegou a altura em que o sol derreteu toda a neve, disse:

- Bom, chegou a altura de te pagar o favor. Sobe para as minhas costas e vamos voar…

- Não vou cair, pois não? - perguntou com um certo medo.

- Nem pensar! Vamos voar! – disse o grou a rir.

Abriu as asas e começou a voar.

E subiram, subiram até muito alto. Lá em baixo, em terra, viam-se as coisas muito pequenas, como se fossem de brincar. Nessa altura, o grou virou a cabeça e disse para a sua passageira:

- E agora vais voar sozinha, já que comeste a sopa sozinha.

E deu um forte safanão que fez cair a raposa. Mas a raposa não conseguia voar, por mais que tentasse, e foi caindo como uma pedra. O grou ria-se a bandeiras despregadas!

Por sorte, a raposa foi cair num lago, muito abundantes naquela terra, de onde só conseguiu sair a muito custo. Furiosa, procurou o grou com o olhar, mas sabe-se lá onde é que ele já ia. 


(Conto de origem finlandesa) 

in “A volta ao Mundo em oitenta contos”, de Albert Jané


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