Gostas de ler em voz alta?
A Biblioteca Escolar
tem um desafio para ti.
Na próxima semana
assinala-se o Dia Mundial da Poesia, dia 21 de março, e sugerimos que escolhas
um poema, que treines a sua leitura em voz alta e que graves um ficheiro áudio
e o envies para o formulário disponível em https://forms.office.com/r/MJYOZ-Vdwq até
ao dia 12 de março. Tens que utilizar o endereço de email institucional.
Durante a semana
dedicada à comemoração desta efeméride, a leitura do teu poema será publicada
no blogue das nossas bibliotecas.
Sê original e criativo
quando leres o teu poema.
Partilhamos também leituras em sala de aula, realizadas pelas turmas do 2.º e 3.º anos de Pascoal e pelo 7.º D da EB Dr. Azeredo Perdigão. Obrigada professoras Madalena Duarte e Ana Cristina Santos! Parabéns!
Comunidade
escolar @ ler!
As histórias que se estragam, por Afonso Cruz
Num conto intitulado
Conversa de quintal, Olinda Beja põe uma personagem a dizer que tem na sua
cabeça um mundo de histórias a estragarem-se (Eu tem um mundo de sóya aqui no
cabeça a estragá).
Culpamos muitas vezes
as novas tecnologias e as redes sociais pelo desinteresse a respeito de certas
tradições e partilhas culturais e, por isso, as histórias ficam a estragar-se
na cabeça de algumas pessoas. Eu, na altura em que poderia ter impedido uma
série de histórias de se estragarem, cometi exactamente o mesmo erro, o da
indiferença. Hoje tenho muita pena de não ter ouvido dos meus avós, da minha
mãe, as histórias que poderia ter ouvido. Como não havia redes sociais, creio
que o culpado só posso ser eu. Penso que o meu caso não será único, e muitos de
nós deixaram histórias estragarem-se assim como verão muitas das suas a
definharem sem se cumprirem, sem terem a possibilidade de sair e habitar outro
corpo, não por causa das redes sociais, nem por causa de culpados anteriores, a
televisão ou as brincadeiras de rua, mas por mero desinteresse ou, se
quisermos, incapacidade para avaliar e detectar as riquezas que nos cercam. O
que nos interessa na juventude não é o mesmo que nos interessa na maturidade ou
na velhice, e isso é um problema difícil de sanar. Em África repete-se muito um
conhecido adágio: quando morre um velho desaparece uma biblioteca.
Podemos fazer grandes
viagens, Samarcanda, Bagdade, Wadi Rum, Agra, podemos subir as montanhas mais
altas, deixar pegadas num deserto africano, dormir com leões e nadar com
tubarões, fotografar auroras boreais, cavalos selvagens e vulcões zangados, mas
há viagens demasiado próximas que têm mais grandiosidade do que as maiores e
mais belas quedas de água ou picos nevados ou selvas luxuriantes ou imponentes
túmulos de pedra. A grande viagem começa às vezes ao nosso lado, pode estar a
um pequeno percurso de carro ou de autocarro ou a pé ou de bicicleta, pode ser
facilmente encontrada no interior do país, por exemplo, onde a solidão se
cultiva com mais zelo do que os campos de searas, pode estar no café de uma
esquina ou no quintal. Pode estar sentada na nossa sala. Há grandes viagens que
se deitam todos os dias em nossa casa e sonham sozinhas. A essas viagens
fundamentais, as mais belas de todas, chamamos simplesmente “disponibilidade
para ouvir”. Ou partilha. Ou tomar um chá ao fim da tarde.
É isso que salva as histórias de se estragarem: não é preciso gastar uma fortuna num hotel charmoso nem levar passaporte ou boletim de vacinas, basta sentarmo-nos e fazer com que esse mundo, esse mundo imenso de histórias não se esboroe. É evidente que isso pode ser feito na Cochinchina ou no Japão ou em Moçambique, e que essa Cochinchina, esse Japão e esse Moçambique serão uma viagem muito mais espessa e rica do que simplesmente passar por esses lugares como turistas fantasmas, atravessando tudo, sem nos determos em nada, mas não será surpresa para ninguém perceber que há mundos de uma vastidão assombrosa no nosso quotidiano ou muito perto, a uns passos, a uns minutos, a umas horas.
Porque tudo se resume a isto: a maior viagem possível é ouvir.
Disponível
em https://euleioemcasa.pt
Ler sempre. Ler em
qualquer lugar.
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